«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

reposição de post

A., moldado em infância de rebeldia era “Zorro”, não na verdade da palavra, pois o pai, homem de honra, e funcionário público não se poderia dar ao luxo de ter um produto por si germinado, e correr o risco de ficar sem emprego pelo que a opção, seria carimbar-lhe a sua assinatura.
E assim se registou, com o nome do pai e apelido de família, não sem antes empacotar no intervalo o sobrenome da mãe.
O apego do lar, era obra difícil de cumprir, pelo que breve, a mãe de A., à data teria este, ainda poucos meses de vida, voltaria à sua terra natal, com o pequeno fruto de um amor que muito depressa deu lugar à raiva.A luta, pelo sustento era obra quase incomportável.
As terras, poucas, mal davam para as sopas, a aldeia, era demasiado pequena para fazer ouvidos moucos ao falatório, e especialmente porque os “sonhos” eram coisa que não cabia naquele domínio.Voou para uma cidade grande, com o pequeno atrás, e depressa se impressionou por um italiano, de porte, a quem não fazia diferença o facto de em tempos a sua deusa, se ter enovelado noutros lençóis de linho.
Mas para A., esta segunda oportunidade que a mãe se encontrava a viver, seria a árvore, cheia de galhos velhos e a esgaçar, que ele teria que subir durante a infância e adolescência.…Já homem, espigado encontra na capital, aquela que lhe viria a tornar os dias e noites mais estimulantes.

L., é gema de uma família que não se zangava com Deus. A sua origem social, não permitia conhecer maravilhas, as terras não eram muitas, mas lá se colhia e criava o suficiente para sustentar oito filhos, e no inicio do século apesar da ingratidão dos tempos, todos eles foram à escola.Na facilidade do riso e na ternura do amor, os sacrifícios valeram a pena, pois incluída no lote dos oito, L., viveu uma infância feliz e uma adolescência encostada às irmãs mais velhas, que já tinham deixado a aldeia, deixando os pais vestidos de silêncio e de saudades da prole.Gozava do pretígio de ser uma menina bem comportada. Aprendera a ler, a cozinhar, a bordar.Começara a botar corpo, e os ouvidos já desabituados do carinho dos pais, pois já há muito que deixara de os ter por perto , os sussurros de A.,faziam ninho de tentação...



E,Quando um casal mal ganha para a renda do quarto, os transportes lhe levam mais do que a calçada lhe gasta nos tacões, o caldo é de batatas e couve, um filho é erva daninha em terreno que se queria de pousio.Descendência era privilégio de rico.Não se acautelaram.

L.,

transformou-se em terra adubada.

Habitavam em quarto exíguo, sem jamais esperar mudança, mas o fedelho vingaria, apesar de malgrado o esforço de cada dia.
LISBOA deixara de ser considerada um conto de fadas, o casamento tão pouco, o trabalho começava ainda o sol, não tinha nascido, a “féria” era parca, e a vida por si, só tinha razão, porque em dia de delírio, remeteu um catraio ao mundo, que lhe acena em parto ainda feito de dor.

Em hora que a cidade já pulsava, a criança ao abrir os olhos, depara-se com o planeta em desordem. Apesar de ser quarta feira e os videntes crerem que o dia é propício para, grandes negócios, favorece a escrita e inspira confiança, nesse dia Agostinho Neto, regressa a Luanda e assume a presidência do movimento, o Partido Comunista defende uma solução pacífica para o problema político português, começa o período de emissões experimentais da RTP, e pela primeira vez na história, os Jogos Olímpicos foram realizados fora da Europa ou dos Estados Unidos, chegando à Austrália.


Grandes mudanças, mas a fonte que aconchega o bebé, revela-se uma imagem apagada, encolhida, vazia de queixumes como quem cheirou a habilidade de revelar poucas falas, olhos baixos, e sorriso acanhado, mas de dentro emanava um calor, que iria fazer espigar o inocente, por forma a atestar, que o destino ruim de ter nascido serva, não lhe cederia por herança.
E aqui começa o "INICIO DE MIM" !

1 comentário:

  1. Grande Amigo de meu Querido Pai.Recordo os dois com soudade!!
    Gostei. Tens arte para a escrita. Continua a tua autobiografia. Escreve um romance e publica-o.
    Beijinhos e abraços
    Filomena Martins

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