«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FADO PERDIÇÃO




Fado Perdição
Cristina Branco

Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar
A dança verde das ondas
Soluça no meu olhar
...
Tentei esquecer os teus olhos

Que não sabem ler nos meus
Mas neles nasce a alvorada
Que amanhece a terra e os céus
...
Tentei ver a minha imagem
Mas foi a tua que vi
No meu espelho, porque trago
Os olhos rasos de ti

Este amor não é um rio
Tem abismos como o mar
E o manto negro das ondas
Cobre-me de negro o olhar


Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cá em casa

Arranjo de Natal

O meu Presépio


No hospital a ti deixei este Presépio e esta vela.
Talvez não os consigas ver, mas acredita que o Menino Jesus, te irá ajudar no caminho.



Um anjo atravessou a planície
com a foice nas mãos: uma ceifa de velas degolou
os moinhos.

O pastor saiu de dentro das mós
com o cajado em fogo: um vento de queimada
soltou-se da sua boca.

Os rebanhos adormeceram quando o rio
saltou por cima das margens: os seus sonhos
alimentam os limos do fundo.

Poema: Nuno Júdice



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O que é um Santo Natal?

O que é um Santo Natal?

Contrariamente ao que me ensinaram, sobre o Natal, hoje quando na rua, alguém me olha e diz:
- Boas Festas!
Fico a pensar:
-Neste período de vizinhança de Natal, a sede de “bem fazer” é mais aguda.
Eu, que vejo esta época do ano, como um hino à hipocrisia generalizada, como a festa de tudo o que é contrário aos sentimentos e actos de solidariedade descomprometida, de genuína vontade de abrir os braços e tentar abraçar o mundo.
Eu, que vejo constantemente por aí a pobreza a que não chega a roupa, a comida, o carinho, que lupo solidão, tristeza, desespero, que olho ódios e ressentimentos familiares, velhos que adormecem isolados, as carrinhas das boas vontades, aquelas, que têm dias e horas marcadas.
Vidas sem qualquer enfeite, que flutuam por caminhos esgotados e sem adubos, onde não há sonhos, e só existe uma vontade de desforra pelo que lhes caiu em sorte, e acorrentados à tradição da festa, o Natal desvenda-se sombrio, para aqueles cujos parcos recursos, não lhes permitem compensações em que iludam o desejo frustrado.


Pois eu desejo que neste Natal todos os que vivem de incertezas práticas ou apenas de sentimentos contraditórios, que tantas vezes nos assaltam, possamos olhar para nós e encontrar armas que nos animem, ao nosso amigo, ao nosso vizinho, ao nosso familiar e, ao acordar no dia seguinte, naquele dia em que já quase todos se esqueceram dos votos de Boas Festa, consigamos perceber que, todas as noites de todo o ano, deveriam velar pelo doce articulado da sociedade.


E para todos um Santo Natal !