«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

RECORDAR É , POR VEZES LAMENTAR.

Hoje acordei pardacenta como o dia.
A chuva e as nuvens ceifaram o brilho do sol, tal como a morte à 16 anos acolheu aquele de quem falarei um dia, com calma, tentando alguma perfeição na escrita, de forma a que nada fique ao acaso.
Faria hoje 82 anos, o meu pai.
É estranho, mas a data do seu aniversário, é o dia do ano em que normalmene mais me recordo dele. Não sei explicar isto.
Hoje o clima lembra-me um 5 de Outubro, teria eu uns doze anitos, fomos os dois passear. Era feriado, mas a minha mãe teria que ir trabalhar, então o meu pai resolveu, que o dia iria ser nosso, talvez numa tentativa de reconciliar muitos dos desconcertos que nossa relação tinha, e se manteriam ao longo dos anos.
Tentei impedir a ideia, desculpando-me com o facto de não ter sapatos adequados, para ir até à Praça do Município, também não tinha uma malita decente, enfim eu não tinha nada em comum com ele, para ir passear. Mas como sempre, a sua suprema vontade manteve-se e prontamente me levou a uma sapataria em Algés, onde comprou uns sapatos e uma mala, a seu gosto, que caprichosamente, apesar da minha relutância, tive que usar. Indo assim contrafeita ouvir o Marcelo Caetano ou o Tomáz, já nem sei, dizer umas coisas que de mim estavam tão longe, como hoje estou do infinito.
Após a prosa política, fomos até ao Terreio do Paço, onde embarcámos num caciheiro, que nos levou a um restaurante de Cacilhas, francamente não lembro o que comi. Sei e ainda retenho o confronto entre a louca vontade de voltar para casa, para junto da minha mãe, e o seu orgulho desvelado de um pai mostrando-me a cidade do outro lado do rio, tentanto comungar comigo aquelas horas de “boa relação”.
Sinto-me triste, por ser de forma tão crua que neste dia recordo o homem que por muito me querer, calcorreou a vida de progenitor com erros sobre erros.
Amparo a mágoa, como a chuva que hoje cai sobre o meu chapéu. Por vezes vem, escorrega, e de quando em vez regressa.
Alimento a esperança de um dia, nos podermos encontrar e talvez conseguir ententer o porquê de muitas coisas que ficaram por dizer.

1 comentário:

  1. Sem querer entrar muito no assunto, no qual não estou muito à vontade, deixo o seguinte pensamento, que é pessoal e como tal pode estar certo ou errado:
    A Grandeza do Ser Humano está no perdoar, até mesmo o imperdoável.
    A grande prova do seu perdão está, no meu entender, no testemunho que passa como Mãe (e Avó), completamente distinto do que relata neste post. Isso é, para mim, mais forte do qualquer memória menos boa.

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