«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Queixa das almas jovens censuradas



Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte

Letra: Natália Correia
Música: José Mário Branco

6 comentários:

  1. Eduarda

    Esta é uma canção perfeita - aquela de que mais gosto de todas quantas saíram do talento musical e interpretação do Zé Mário. O poema é sublime.

    Obrigada pela partilha.

    Beijos

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  2. Isa
    Verdade, é mesmo muito bom!
    Bjinho

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  3. Fátima
    Disse-te no blog da aldeia que acho que estamos na mesma onda!
    Também considero sublime o poema da Natália´ Correia e esta música assenta-he como uma luva.
    Um beijo

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  4. Conheço, claro, mas soube tão bem relembrar, maiga Eduarda.


    No dia da mãe, deixo uma mensagem igaul para todos os amigos queridos.

    Deixo a minha mensagem igual para todos.

    Existe uma só bela criança no Mundo... mas para cada uma delas existe uma Mãe.
    Beijinhos especiais neste dia, para todos.

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