- Ontem, o meu jantar soube-me que “nem ginjas”!- Ah, sim o que foi?
- Ah, ah nem vais acreditar… Comer de porco!
- Comer de porco? Carne de porco, queres dizer.
- Nã,...nã...nã...; comer de porco…!
- Essa é nova!
- Burrinha. Bacalhau com rabas. Diz-te alguma coisa?
- Bacalhau sim, rabas não!
………..
E começa a lenga-lenga de dizer, que há hábitos irritantes, para o resto dos comuns, nascidos na minha cidade. Eu tenho o habitozinho, de entrelaçar emoções, memórias e sabores.
Neste caso comida e memória é laço reforçado. Dois fios que se encontram unidos por vivências comuns.
Para além do sentir das matizes e todas as variações de cores e afectos, conseguiu a minha santa avozinha eternizar o sabor de um tubérculo, vincando as muitas lembranças que ainda hoje dela transporto.
O par de dança “Bacalhau / Rabas”, provavelmente apenas conhecido, pelos naturais transmontanos, baila no meu prato, (graças a um bom amigo da aldeia de Montezinho).
Trata-se de um produto hortícola, que a maioria das gentes de Trás os Montes cultiva e dá ao porco.
Embora considere, que comer é (também) um acto eminentemente social, atenção, não me atreveria a comer com o dito animal. Mas não vale a pena mascarar emoções, as pessoas gostam do que gostam, e eu gosto do que o porco come!
É um laço, que dificilmente se desfará.
A minha avó, que só vi uma vez, fazia "batatas de porco", uma delícia que só uma vez provei e nunca mais esqueci o paladar. Sabe o que era? Feijoada de abóbora, sem ponta de carne, hehehe!
ResponderEliminarBeijo
Eduarda
ResponderEliminarLia o teu artigo e ia-me perguntando: mas onde é que ela desencantou as rabas? Lá mais para diante fiquei esclarecida.
Creio que, de facto, só os transmontanos (todos?) sabemos o que isso é, mas nem todos os dicionários ignoram a palavra:
Raba, De rábão. Séc. XVII: As rabas são huma especie de nabos, da mesma natureza que elles, Dr. Francisco da Fonseca Henriques, Ancora Medicinal.
A transcrição é do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.
Se formos ver "Rábão", diz-nos que vem do latim hispânico rapanu com origem no grego ráphanos. Rábao já se usava no séc. XVI, como prova esta citação de Gil Vicente, do "Quem tem Farelos?":
Toma hum pedaço de pam / e hum rabam engelhado, / e chanta nelle bocado / coma cam .
Beijos
Olá Isa!
ResponderEliminarDesconhecia as "batatas de porco", mas acredito que as nossas avós, tinham uma boa mão para a cozinha.
Assim qualquer caldo, ficava um mimo.
E muitas saudades tenho dos caldos e dos "calduços" da minha avó.
Beijo grande
Fátima
ResponderEliminarÉs um poço sem fundo, em conhecimento. Obrigada por te disponibizares na informação.Crê que a absorvo, de boa fé, tal como faço, com tudo o que me ensina a não ser uma sedentária mental.
Aprendi que enriquecimento é isso mesmo.Conhecer e oferecer.
Lembras-te por certo do Fleming, se ele não tivesse aproveitado,"lixo", se calha hoje morreriam muitos mais.
Quanto às rabas, digo-te que estavam bem boas.
A seguir vou fazer casulas.
Um beijo grande e mais uma vez obrigada.
Eu, que não sou transmontana gostava de saber o que são rabas. Será da familia dos rabanetes? Ou será como me parece na foto, da famila das beterrabas?
ResponderEliminarPode esclarecer-me?
Nuito obrigada e já agora porque não me faz uma visita?
www.hoticasa.blogspot.com
bj eugenia
Cara Eugénia
ResponderEliminarGrata pela sua visita.
Penso que a resposta, mais clara se encontra no comentário da minha amiga Fátima, posso no entanto dizer-lhe que se trata de um tubérculo, que após cozinhado tem um sabor entre a cenoura e o nabo,e fica de côr alaranjada.
Prometo que vou dar um salto ao seu cantinho.
Um abraço
fiquei fascinada, por ver aqui a divulgação de um produto tipicamente trasmontano, pois so ai é que se encontam as ditas rabas para comer com o bacalhau. Ja agora porque não divulgar tambem as cascas ou casulos
ResponderEliminarum abraço