«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Boas recordações

É nesta rua estreita, que não deve chegar aos três metros de largura, o mais longe que a minha memória alcança.

Estava a terminar o ano de 1959, acabadinha de completar 3 anos, fui sorteada pela “tosse convulsa”.
A dita , resolvera instalar-se,com força, logo em mim, criança, que apesar de gorducha, não era por certo muito robusta
.
Meus pais, embora atentos, mas de parcos recursos, foram confrontados pelo médico com duas hipóteses de cura, e escolha difícil!
Viajar de avião, ou passar uma larga temporada num local com ventos serranos.
Ao que sei, à data, “o avião” era solução desajustada, aos rendimentos, pelo que as circunstâncias levaram-me para casa dos meus avós no norte.
Ali, permaneci oito meses, período que determinou a cura da mazela
.

Na pequena artéria brincava com bonecos de trapo, e loiça de alumínio, comprada na feira das festas da cidade. A folgança e a asneirada eram partilhadas com amigos, também eles netos, filhos ou sobrinhos de moradores da mesma rua.
Lembro-me bem, éramos uma equipa, até nos ralhetes. Quando um de nós era castigado, era acordado pelos adultos, que todos receberíamos o mesmo prémio.

Durante este correr de tempo, as idas à aldeia dos avós, eram adorno, salpicado de liberdade a que não estava habituada .
O verde dos lameiros, o cinzento das fragas, o castanho das folhas de Outono iriam vincar a minha preferência de pantone.

Após cura completa, regressei a casa, mas pespineta como era , comecei a pedir que me deixassem ir novamente para lá nos anos seguintes.

Caminhei para lá, nas férias, durante um bom período da minha vida.


Hoje, passadas muitas épocas de férias, já não faço, do norte o meu destino.



Naquela rua, já não há avós, já não tenho amigos, e apesar de grande parte das casas ainda se manterem, já quase nada é igual, mas passear naquele pequeno espaço é condição que a alma me impõe.
À aldeia, também pouco me desloco, mas a voltinha ao Prado, a passagem pela Canteira da minha avó, hoje tratadinha pelo meu tio, o bisbilhotar do lavadouro junto a casa da T.A.,onde tantas e tantas vezes agarotei, são percursos que enquanto Deus me permitir, de quando em vez, irei visitar, adubando assim, as memórias que não posso perder.



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