«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

domingo, 26 de abril de 2009

PARIDADE


A semana passada, na mesa ao meu lado no restaurante, encontravam-se três senhoras a almoçar e à conversa. Suponho que colegas de serviço. Sem querer, e dada a pouca distância, fui obrigada a ouvir a discussão que a seguir descrevo:
- Viram a camisa do chefe? Perguntava uma.
- O que é que tinha? Era azul não era? Questionava outra.
- Eu nem olho para ele, quanto mais para a camisa. Dizia a terceira, com desdenho e impaciência pela conversa que se avizinhava
- Nada disso, tinha a camisa toda amarrotada, mal engomada, parecia tê-la vestido directamente saída da máquina.
- Amarrotado já é ele, por isso nem reparei. Explode rapidamente a que nem olhava o chefe.
- AH! Isso, deve ser a querida mulherzinha, que já nem olha para o maridinho. Coitada também já não deve ter “pachorra”.
- Eu também concordo, se o homem, vem trabalhar assim, ou ela, não lhe liga, ou ele nem se vê ao espelho.
- Isso, não acredito! Pois se o tipo, impesta o escritório de perfume, deve passar um bom tempinho de manhã a olhar para si.
- Queres dizer, que a santa, não é boa engomadeira?
- Se calha…!
….
A cavaqueira nem era sequer interessante, mas por associação de ideias, veio-me à lembrança a nossa célebre Lei da Paridade.
Diz a mesma que : “…Entenda-se por paridade, para efeitos de aplicação da Lei, a representação mínima de 33,3% de cada um dos sexos das listas…”.
….
Nada me conduz contra qualquer espécie, e muito menos a minha, mas será que nos dias de hoje a prosa atrás relatada, abona de alguma forma nas qualidades femininas? Creio que abate pela raiz qualquer boa intenção de paridade.
Enquanto existirem mulheres, cujo pensamento se limita “ao vinco da camisa mal engomada”, não me parece que estejamos bem representadas.
Há que mudar mentalidades.
Há que combater o formato “mulher/casa”, “homem/profisional-mentor”.
Não precisamos e inverter situações, existe é a necessidade de lado a lado construirmos uma nova sociedade, onde todos possamos ocupar os mesmos espaços de vivência, pois as capacidades não se classificam pelo género.
E quando este modelo estiver instalado, a dita Lei estará fora de prazo, e a percentagem deverá ser de 50 % e não 33,3%.

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