«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.



Joaquim Pessoa

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Legalmente fera !




O que se faz geralmente com a fera é prendê-la na jaula, enfiar-lhe uma sólida focinheira, atar-lhe uma coleira ao pescoço,e amansar-lhe o temperamento com muito chicote no lombo.
Assim instruída, poderá até subir um trampolim, levantar-se sobre as patas traseiras, e até pular por dentro de um círculo em chamas.
E palmas. Muitas palmas!
Pelo menos até ao momento em que distraído o domador, a fera salta, dentes à mostra.
É assim que a sociedade de um modo geral, convive com a agressividade.Proibindo-a de se manifestar, trancando-a numa sólida jaula de preconceitos moras, enfiando-lhe um açaime de vetos e inibições.
Agredir fisicamente é proibido por lei. Agredir verbalmente é falta de caridade cristã. Contradizer é pecado, o certo é oferecer a outra face e receber o insulto em dobro.Criança que bate no irmão mais pequeno é cobarde. Irmão mais novo que provoca o mais velho, excede-se e vai de castigo. Mulher que bate noutra, que vulgaridade!
Bonito enfim, é o manso, o doce, o sempre compreensivo.
E embora sejamos todos feras, pretendemos a beatitude de um santo qualquer.

sábado, 16 de outubro de 2010

I Know I have to go...

...
Now there's a way and I know
That I have to go away
I know I have to go
...



Cat Stevens
Father And Son

segunda-feira, 11 de outubro de 2010


Nestes tempos em que tudo se distorce, manifestam-se constantemente falsos afectos por forma a sentirmo-nos devedores em permanência, tal como o canídeo de Pavlov.
-“Toma lá o doce. Não o mereces. Ofereço-to, para que sintas, que me deves qualquer coisa.”
Assim vai andando este país…


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Canção Tonta




Mama.
Eu quero ser de prata.

Filho,
Terás muito frio.

Mama.
Eu quero ser de água.

Filho,
Terás muito frio.

Mama.
Borda-me em teu travesseiro.

Isso sim!
Agora mesmo!


sexta-feira, 1 de outubro de 2010