«Não é sinal de saúde estar bem adaptado a esta sociedade doente»
Jiddu Krishnamurti

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Apresento-vos o meu novo espaço.




Ainda está em construção, tem sido uma trabalheira eu o Wordpress, andamos cansados um do outro, mas como sou teimosa, ele não há-de levar bandeiras...!
Se me quiserem visitar, estejam á vontade, a porta está aberta!

QUERO AGRADECER PUBLICAMENTE À NÁ, A DISPONIBILIDADE PARA ME AJUDAR NESTA BATALHA, ELA SIM,  É UMA GUERREIRA, QUE NÃO GUARDA TRUNFOS NA MANGA.
OBRIGADA MINHA AMIGA!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EM MUDANÇA

Eu sei... eu sei que andam ansiosos por um novo post. Mas ando cheia de preguiça e este espaço,já não me agrada nem um pouquinho.
Logo, logo venho aqui dizer-vos, onde podem de novo encontrar-me.
Até lá, deixo-vos uma flôr


E um beijo grande.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Les désespérés"



 Se tiennent par la main
Et marchent en silence
Dans ces villes éteintes
Que le crachin balance
Le sol que leur pas
Pas à pas fredonné
Ils marchent en silence
Les désespérés
Ils ont brûlés leurs ailes
Ils ont perdu leurs branches
Tellement naufragés
Que la mort paraît blanche
Ils reviennent d'amour
Ils se sont réveillés
Ils marchent en silence
Les désespérés
Et je sais leur chemin
Pour l'avoir cheminé
Déjà plus de cent fois
Cent fois plus qu'à moitié
Moins vieux ou plus meurtris
Ils vont terminer
Partent en silence
Les désespérés
Lente sous le pont
L'eau est douce et profonde
Voici la bonne hôtesse
Voici la fin du monde
Ils pleurent leurs prénoms
Comme de jeunes mariés
Ils fondent en silence
Les désespérés
Que se lève celui
Qui leur lance la pierre
Ils ne sait de l'amour
Que le verbe s'aimer
Sur le pont il n'est plus rien
Qu'une brume légère
Ça s'oublie en silence
Ceux qui ont espéré

"Les désespérés" - Jacques Brel from Poesie in forma di rosa on Vimeo.





segunda-feira, 6 de junho de 2011


A década de 70 acaba, e entramos na seguinte com muita… ah quanta!, esperança na democracia.

Já antes tínhamos tido oportunidade de ver tiranos comerem pó, vimos cair o Franco, Salazar, caiu Bokassa, o Xá , Idi Amim esborrachou-se, Somoza abateu-se…ditaduras foram-se finando e nós por cá, que nos julgávamos frágeis, levantámos as mãos, levantámos a voz e começámos a avançar.

Um novo fôlego se nos oferecia.

Na verdade, o trabalho, que abrira o seu leque, com alarde, era decorrente daquele que se iniciara discretamente muitos anos antes. E apesar da divergência de opiniões a integração de todos era-nos assegurada pelo desenvolvimento de relações amigáveis e cooperação entre as diversas classes emergentes no país. Assim; o combate aos preconceitos, o direito à instrução, uma maior participação nos órgãos centrais de decisão, a justa distribuição dos benefícios originados pelo grau de desenvolvimento que conseguíssemos, eram mecanismos de aplicação para um plano, que ao longo destes anos foram deixados ao critério de cada um… e embora tenhamos hoje grandes melhorias, a batalha não acabou.

Chegados a uma situação grave, onde medidas urgentes são pedidas em relatório encaminhado para todos nós, e o não cumprimento das obrigações que nos foram atribuídas, torna-se um combate difícil e sem prazo. Está em causa o garante da subsistência de muitos, o que perante o nível de abstenção atingido nestas últimas eleições, parece-me dramático, para uma população que há tantos anos esperava uma situação bem melhor para os seus filhos.

Acordemos pois, para o facto dos nossos filhos e netos, não sentirem orgulho na nossa geração, bem podemos ouvi-los gritar, escrever, reclamar nas ruas, nos congressos, nos gabinetes, essas são ainda as garantias que lhes damos... por enquanto, e se algum sorriso subsiste será mais de insegurança, do que de pazes feitas, pelo final do processo.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

A personificação da máquina ironiza a disputa injusta entre ela e o homem.


"O ceifeiro pende mais a cabeça e vai caminhando sempre, a cortar o espaço com a foice que talha clareiras na seara!
– Esses bocados rezentos ficam!
– Lume nesses olhos! O que é verdete não se corta!
Atrás do rancho, a cachopada vai fazendo a respiga. O Agostinho Serra traz a terra de renda à Senhora Companhia e um punhado de arroz faz-lhe falta nas contas.
Nas goelas anda seca de Agosto, que os xabocos dos canteiros avivam. Os lábios sorvem as gotas de suor que escorrem sempre, como os canteiros fazem o remijo para as valas de esgoto.
O cuspo é baba de boi que deitam fora e fica a balouçar moinha que pede descanso, mas o trabalho não pode parar.
Não pode parar, porque lá em baixo, no aposento, o patrão está a fazer contas à colheita, que correu em boa maré.
Parece que dos braços as carnes caíram e só ficaram os ossos, como tomados de reumático, e os tendões retesados, como correias de debulhadoras em movimento.
Os peitos arfam, as pernas derreiam-se.
A malta trabalha em silêncio e só as foices e as espigas falam. As tosses, de quando em quando, dizem que ali vai gente – isso a distingue das máquinas, que não têm pulmões."





terça-feira, 10 de maio de 2011

Para além da televisão ... da Nintendo... das Barbies ...dos Nenucos...há todo um tempo para experiências várias.

O tempo não é borracha mágica. Porque um grande sentimento, não é como um traço de lápis que apenas deixa o rasto na superfície do papel.
Um grande sentimento abre o seu sulco em nós, gravando-se para sempre, na amálgama em que a vida se estrutura podendo ser a qualquer momento reencontrado.
E assim como a borracha não apaga os sulcos de uma gravura, assim também o tempo não cancela aquilo que se inscreveu mais fundo.
O tempo não apaga, mas actua. Aos poucos, nas constantes sobreposições das camadas vitais, outros sulcos se marcam, correspondendo às experiências, às descobertas, aos pequenos e grandes entendimentos. E é no conjunto de todas estas marcas que cada marca de per si será revivida.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Queixa das almas jovens censuradas



Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte

Letra: Natália Correia
Música: José Mário Branco

terça-feira, 19 de abril de 2011

SANTA PÁSCOA

Caravaggio



Descida da Cruz, produzido entre 1600 e 1604. A tela é considerada uma das obras-primas do pintor, e foi encomendado por Girolamo Vittrice para a capela de sua família em Santa Maria de Vallicella, em Roma. Atualmente pode ser encontrada nos Museus do Vaticano


De que forma falaria hoje Jesus da nossa sociedade?


Jesus levar-nos-ia de novo para a beira do lago, ao deserto, ao rio Jordão. Entraria nas nossas casas e falaria uma palavra que nos tocaria e comoveria o coração.

A sua palavra é sempre alternativa. A voz de Jesus não é mais uma. Não é uma voz que nos confirma, que diz “está tudo bem”, mas é uma voz que não se conforma. Jesus é um inconformista e por isso leva-nos sempre para a margem.


A palavra e a experiência cristã deslocam-nos para fora do rebanho, para fora das nossas certezas e daquilo que está estabelecido. Ou então é uma palavra que nos leva para dentro, nos reaproxima, estabelece connosco de novo uma intimidade. E aí, Jesus é capaz de tocar por dentro o nosso coração.



José Tolentino Mendonça: «A palavra e a experiência cristã deslocam-nos para fora do rebanho»
Conversa entre o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, padre José Tolentino Mendonça, e o jornalista Paulo Rocha.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A minha mãe



Parabéns pelos teus 88 aninhos.
Mãe;
-não há poema...não há texto... não há livro, que consiga dizer mais do que isto: amo-te!

(fotografia tirada em Março de 2011) 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Não devemos esquecer...

Recebi por mail e não resisti a partilhar:

Para quem andou pela Guerra Colonial, também para quem não pôs lá os pés, por sorte, por azar, pela idade ou condição, mas acima de tudo para quem gosta de saber mais e se interessa pela história do seu país, do nosso país, e por um conflito que marcou as gerações das décadas de quarenta e de cinquenta e de sessenta e de setenta e de oitenta e de...., aqui fica um notável documento para adicionar aos Favoritos e ir consultando à medida da sua curiosidade:



segunda-feira, 4 de abril de 2011

Serra de Montejunto e aldeia de Pragança



Uns dias de férias na aldeia, são a melhor terapia.
Ainda estou a recuperar das minhas cruzes, mas valeu a pena!




quinta-feira, 24 de março de 2011

Memory



Memory
All alone in the moonlight
I can dream of the old days
Life was beautiful then
I remember the time I knew what happiness was
Let the memory live again

sábado, 19 de março de 2011

Pequenas grandes lições

Nos anos de 1982 a 1986 chegavam aos molhos, novos clientes para as agências de publicidade, era o “boom da internacionalização”. Não tínhamos muita gente especializada, pelo que era trabalhar até mais não. Naquela altura não existiam relógios, que nos fizessem parar.

Posicionadas as nossas secretárias lado a lado, eu e a Guida com catraios pequenos, por vezes intervalávamos os “media plannings” e conversávamos sobre as nossas nobres lides domésticas.

A Guida, contratou a D. Josefa, para ajudar nas limpezas e arrumações lá em casa, mas nem sempre o manejo da senhora estava de acordo com o da dona da casa, e as queixas sucediam-se…, pelo que um dia eu já cansada, de tanta má produção, disparei:

-Eh pá, manda-a embora. Arranja outra!

Espantada a Guida, esgazeou-me os olhos, e eram grandes, olhou em frente e disse:

- Sabes ontem, o meu filho, entornou o leite no chão, com a pressa, saí e não limpei. Quando cheguei a casa, à noite, tinha uma auréola branca no chão, e pensei; se não fosse a Josefa, a esta hora tinha que limpar o chão todo, assim como ela passou o pano, já só tenho que limpar o círculo que secou à volta dos pingos.

E a Josefa por lá continuou, ainda alguns anos, até ao dia em que a Guida partiu, já lá vão, para aí uns 18 anos.

Tantas e tantas vezes me lembro deste pequeno episódio, porque as separações, e em especial as partidas são uma ameaça permanente, armas poderosas. Não podemos jogar impunemente com a separação. Ela é importante demais, para todo o nosso equilíbrio emocional, e como tal deve ser enfrentada, atenta e cautelosamente.

Seja qual for o caminho escolhido, é preciso conhecer que acima da situação que pretendemos largar, conta na hora do pulo, o sentimento de perda.



Tenho saudades de ti minha amiga!

terça-feira, 8 de março de 2011

Apeteceu-me:



Silêncio E Tanta Gente Maria Guinot

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
É um grito
Que nasce em qualquer lugar
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história daquilo que eu sou

Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou é um grito
De um amor por acontecer
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história daquilo que sou

sábado, 5 de março de 2011

O fio das Missangas


“(…) O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (…)”


Mia Couto

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei



As Famílias Reais são um maná para diversas indústrias, com alguma incidência na sétima arte.


The King's Speech que este ano abarbatou os principais prémios da Academia. Na minha modesta opinião cinéfila, não deixa de ser interessante, mas nada mais do que isso.

Colin Firth tem uma exibição fantástica, no papel de George VI. bem como Geoffrey Rush - como Lionel Logue, esperava no entanto um pouco mais, dada a época em que os factos se passaram, o peso da Inglaterra na Guerra de 39-45.

As suas relações com a Alemanha mereciam um pouco mais de destaque, que não tão só a gaguez do rei.

Alguns historiadores contam até, que os trabalhos com Logue terão começado muitos anos antes da coroação.

Enfim, mais um filme daqueles, que ao acabar não nos deixa grandes memórias, a não ser quando injectados pela maior festa do cinema americano



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Para ti, companheiro de viagem


Não falo de palavras, nem de goivos,
mas de horas atadas ao pescoço.
Poema verdadeiro é sermos noivos:
saber tirar a pele e o caroço

ao grito entre a morte e outra morte
que nos mantenha lassos e despertos
até que venha o talhe que nos corte
e nos retire os poços e desertos.

Por isso, meu amor, o que te dou,
beijo beijado em corpo claro e vivo,
é mais que o verso que te dizem, ou
aliterante, agudo ou conjuntivo.

Colado a tudo, mesmo a contragosto,
o rio inventa o verso, e não assim
como se ao espelho visse o próprio rosto,
mas tu além-palavra, ao pé de mim.

Escrito de Memória, 1973

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Reposiçao





Neste meu  périplo pelos blogs, tenho percebido, que os mesmos se dividem em variadíssimas classes, existindo um perfil que predomina e me tem obrigado a alguma reflexão. Trata-se da procura insistente do “eu superior” ou da “luz” como lhe quisermos chamar.

Ao que me parece nem toda a mudança ou tentativa da mesma se traduz num romper com o compromisso de vida que nos foi atribuído ao nascer.
Todas as possibilidades existem, nem sempre de acordo com o padrão ensinado. Embarcar na reflexão, pode ser o reconhecimento da provação em falta, da respiração suspensa, da vilanagem inconsciente, da vida de ausência ou até do silêncio perdido. Daí a necessidade de investigar.

Estou longe dessa procura, provavelmente deveria, e parece-me que a evolução, vou chamar-lhe assim, resulta duma impossibilidade durável de manter a vida real, até ali vivida.
Num piscar de olho, e de fácil entendimento, reconhece-se que o heroísmo no quotidiano, se torna violento para aquele que o pratica, pelo que resistir à pressão dos círculos próximos é difícil. Daí o encosto à espiritualidade.

Não me choca que as pessoas se queiram tornar melhores seres humanos, mas as ausências imaginadas, podem vir no sentido inverso e reclamar aquilo que no nosso dia a dia não se pratica, arrisco dizer, poder ser redutor.

Na generalidade dos casos, raramente a atitude é igual ao discurso.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Contos do Mar Errante



“...no amor não há juízo final, mas fora dele não terão conta as contas que nos serão pedidas...” .



Um desafio à coragem de mudar...
 
 
Maria Gabriela Llansol 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Luigi Tenco - Vedrai Vedrai



Vedrai, vedrai, vedrai che cambierà
forse non sarà domani, ma un bel giorno cambierà
vedrai, vedrai, che non sei finito sai
non so dirti come e quando ma vedrai che cambierà

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011




Não caias pelo cansaço,

não deixes que neguem o teu sonho,
tu não queres esquecer!


O tempo não conta, mas…
já se foram dezanove Janeiros
e
tu não queres esquecer!


A distância é tão curta
que sinto a tua estrela
já cansada de olhar por mim
mas,
tu não me queres esquecer!


Entorpecida, pelos atalhos
do meu viver,
vou pintando enredos,
em telas brancas
com cores fortes


E a fadiga não me aperta.
Sabes porquê?
Porque tu;
-Não cais pelo cansaço; de olhar por mim.
-Não deixas que neguem o teu sonho; de eu ser feliz.
-Tu não me queres esquecer; tu não me vais esquecer nunca.
Eu sei isso, pai!

Janeiro,1927- Agosto,1992

Desde que partiste, o dia do teu aniversário, é um dos que mais me custa viver.

domingo, 16 de janeiro de 2011


«Quando a bondade se mostra abertamente já não é bondade, embora possa ainda ser útil como caridade organizada ou como acto de solidariedade. Daí: «Não dês as tuas esmolas diante dos homens, para seres visto por eles». A bondade só pode existir quando não é percebida, nem mesmo por aquele que a faz; quem quer que se veja a si mesmo no acto de fazer uma boa obra deixa de ser bom; será, no máximo, um membro útil da sociedade ou zeloso membro de uma igreja. Daí: «Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita.» »
Hannah Arendt

domingo, 9 de janeiro de 2011

O Diário do Professor Arnaldo – A fome nas escolas


"Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas…Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?

É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos."

(http://www.aventar.eu/2010/11/19/o-diario-do-professor-arnaldo-a-fome-nas-escolas/)

ADENDA DO PROFESSOR

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Independência

Independencia é uma forma de nos colocarmos em relação à vida, que abrange a totalidade ou quase das nossas acções.

Independência é a condição de não depender , de não ser tutelada de ser dona das próprias decisões, de ser autónoma.
E aí teremos que enfrentar a ideia argentária. Não é um conceito edificante, mas sem independência económica, não existe independência.
A partir do facto elementar que é preciso comer, e não há comida gratuita, porque mesmo que plantemos, precisamos de solo, e de uma semente para geminar.
Com um salário na mão definimos os nossos padrões, o que podemos fazer, onde podemos morar e até onde podemos ir.
Mas será que independência é tão simples assim?
Todo o conhecimento é necessário para chegarmos e manter a independência.
Não se trata apenas de afirmá-la, mas também de demonstrá-la.
Não basta o conhecimento de uma profissão, embora seja indispensável para o tal caminho do sustento, mas para cuidar de nós é preciso muito mais, e não me refiro aos cursos, às roupinhas ou às nossas necessidades supérfluas.
É preciso sabermos em que mundo vivemos, quem nos rodeia, quais as nossas grandes questões.
São estes conhecimentos que dão à vida uma arquitectura mais sólida.
Sustentar uma vida é nada mais que arrumar as nossas dúvidas, perante as respostas que se nos oferecem.
E na hora do arrumo, quando estamos com a bateria quase descarregada, vamos conferir a contabilidade e damos de caras com um benefit, que nos mostra que há sempre um amanhã promissor à nossa frente. Um amanhã movimentado. Vital, com trabalho, fraquezas a vencer e forças novas a despertar.
Privilégio é a forma como nos sentimos compensados, reconhecer que não damos só importância à conta da luz, ou por não termos com quem sair numa noite de sexta feira.
Independência é não ter medo de crescer, independentemente da nossa idade.

Ou seja independência é coisa muito profunda, que não basta entregar a uma empresa
de mudanças.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FADO PERDIÇÃO




Fado Perdição
Cristina Branco

Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar
A dança verde das ondas
Soluça no meu olhar
...
Tentei esquecer os teus olhos

Que não sabem ler nos meus
Mas neles nasce a alvorada
Que amanhece a terra e os céus
...
Tentei ver a minha imagem
Mas foi a tua que vi
No meu espelho, porque trago
Os olhos rasos de ti

Este amor não é um rio
Tem abismos como o mar
E o manto negro das ondas
Cobre-me de negro o olhar


Este amor não é um rio
Tem a vastidão do mar

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cá em casa

Arranjo de Natal

O meu Presépio


No hospital a ti deixei este Presépio e esta vela.
Talvez não os consigas ver, mas acredita que o Menino Jesus, te irá ajudar no caminho.



Um anjo atravessou a planície
com a foice nas mãos: uma ceifa de velas degolou
os moinhos.

O pastor saiu de dentro das mós
com o cajado em fogo: um vento de queimada
soltou-se da sua boca.

Os rebanhos adormeceram quando o rio
saltou por cima das margens: os seus sonhos
alimentam os limos do fundo.

Poema: Nuno Júdice



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O que é um Santo Natal?

O que é um Santo Natal?

Contrariamente ao que me ensinaram, sobre o Natal, hoje quando na rua, alguém me olha e diz:
- Boas Festas!
Fico a pensar:
-Neste período de vizinhança de Natal, a sede de “bem fazer” é mais aguda.
Eu, que vejo esta época do ano, como um hino à hipocrisia generalizada, como a festa de tudo o que é contrário aos sentimentos e actos de solidariedade descomprometida, de genuína vontade de abrir os braços e tentar abraçar o mundo.
Eu, que vejo constantemente por aí a pobreza a que não chega a roupa, a comida, o carinho, que lupo solidão, tristeza, desespero, que olho ódios e ressentimentos familiares, velhos que adormecem isolados, as carrinhas das boas vontades, aquelas, que têm dias e horas marcadas.
Vidas sem qualquer enfeite, que flutuam por caminhos esgotados e sem adubos, onde não há sonhos, e só existe uma vontade de desforra pelo que lhes caiu em sorte, e acorrentados à tradição da festa, o Natal desvenda-se sombrio, para aqueles cujos parcos recursos, não lhes permitem compensações em que iludam o desejo frustrado.


Pois eu desejo que neste Natal todos os que vivem de incertezas práticas ou apenas de sentimentos contraditórios, que tantas vezes nos assaltam, possamos olhar para nós e encontrar armas que nos animem, ao nosso amigo, ao nosso vizinho, ao nosso familiar e, ao acordar no dia seguinte, naquele dia em que já quase todos se esqueceram dos votos de Boas Festa, consigamos perceber que, todas as noites de todo o ano, deveriam velar pelo doce articulado da sociedade.


E para todos um Santo Natal !

terça-feira, 30 de novembro de 2010

NÓS


O homem de génio diz:  eu sou.
O poderoso afirma:  eu posso.
O rico diz: eu tenho.
E o ambicioso: eu quero.
Eu! Eu! Eu!
E afinal,
esses que vivem sós,
completamente sós,
quanto dariam para, como tu,
ou como eu,
dizerem simplesmente: nós!

Fernanda de Castro

Digo mais: Começou a época de plástico !

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Montejunto

Serra de Montejunto

Por aqui, não oiço discursos, nem se recebem medalhas de hipócrisia!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

RABAS



- Ontem, o meu jantar soube-me que “nem ginjas”!
- Ah, sim o que foi?
- Ah, ah nem vais acreditar… Comer de porco!
- Comer de porco? Carne de porco, queres dizer.
- Nã,...nã...nã...; comer de porco…!
- Essa é nova!
- Burrinha. Bacalhau com rabas. Diz-te alguma coisa?
- Bacalhau sim, rabas não!

………..

E começa a lenga-lenga de dizer, que há hábitos irritantes, para o resto dos comuns, nascidos na minha cidade. Eu tenho o habitozinho, de entrelaçar emoções, memórias e sabores.
Neste caso comida e memória é laço reforçado. Dois fios que se encontram unidos por vivências comuns.
Para além do sentir das matizes e todas as variações de cores e afectos, conseguiu a minha santa avozinha eternizar o sabor de um tubérculo, vincando as muitas lembranças que ainda hoje dela transporto.
O par de dança “Bacalhau / Rabas”, provavelmente apenas conhecido, pelos naturais transmontanos, baila no meu prato, (graças a um bom amigo da aldeia de Montezinho).
Trata-se de um produto hortícola, que a maioria das gentes de Trás os Montes cultiva e dá ao porco.

Embora considere, que comer é (também) um acto eminentemente social, atenção, não me atreveria a comer com o dito animal. Mas não vale a pena mascarar emoções, as pessoas gostam do que gostam, e eu gosto do que o porco come!

É um laço, que dificilmente se desfará.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Chegaremos...o caminho está aí


"É ilusória toda a reforma do colectivo, que se não apoie numa renovação individual; ameaça  aruinar,  todo o movimento que tornar possível a ignorância e a ilusão.
Acima de tudo coloquemos a franqueza e os corações abertos; às dúvidas que se juntam podem surgir as melhores fórmulas; chega mais lento o triunfo, mas vem mais sólido; e ninguém se arrastou, todos chegaram pelo seu pé."


Bem nos ensinou o Prof., que na vida não vale tudo, para chegarmos onde pretendemos.

sábado, 13 de novembro de 2010

Conceitos





De neve nada sei, de sol também,
de milhares de sossegos acordados,
da subida do teu rosto atrás dos ombros,
da mão ardente, da vista da sacada
nada sei.
Ponho palavras como coisas feitas:
só entre elas, enquanto jogam, leves,
seu rodado sem cor nem qualidades,
minha ciência existe, e já não minha,
ou só tão minha como tua e delas,
ar entre os dedos, sumo de verdades.

 Pedro Tamen


Saber que os encontros e conversas de circunstância e especialmente a descoberta de que a amizade, não se traduz pela mente mas sim pela alma, o que quer dizer ,que quando estamos na mó de cima, temos sempre amigos à nossa volta, quando estamos em reflexão, todos fogem, atribuindo o facto ou a uma “depressão” ou estamos a ficar”maluquinhos”.

Nem sempre os amigos são só aqueles, que nos dão os parabéns no dia dos anos, aqueles que vêem cá a casa jantar, aqueles que convidamos, quando damos uma festa, ou até aqueles com quem bebemos um café e desabafamos sobre o bom e o mau, que a vida nos oferece.

Considero também e muito, aqueles, que na hora do sufoco se disponibilizam para nos dar uma mãozinha, quando parece que tudo nos cai em cima.
A grande variante é que comecei a entender de outra forma, os que me rodeiam.
Ninguém é obrigado a seguir o caminho de ninguém.
Os factos na nossa vida entendem-se simplesmente por “aceitação”
Cada vez mais vivo de dentro para fora, já não tenho apegos a coisas que até aqui me faziam muito feliz, (falta-me deixar de fumar e beber café, vícios …)

Hoje, espero que as coisas aconteçam no seu devido tempo; não corro para nada, nem para ninguém.
Mas estou aqui....segura  e apoiada em QUEM me ama!!!

E não tenho medos!


























terça-feira, 9 de novembro de 2010

Prémio Dardos

Recebi da minha amiga Isa do blog  The M Chart

"O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras."




E as regras são:

- Exibir a imagem do selo no blog

- Exibir o link do blog que você recebeu a indicação

- Escolher 10, 15 ou 30 blogs para dar a indicação e avisá-los.

Esta escolha é que me é difícil.
Prometo que logo, logo vou oferecer este prémio também.

Á Isa o meu muito obrigada pelo carinho

E aqui vão as minhas ofertas:

http://euconto-jrf.blogspot.com/
http://www.rebordainhos.blogspot.com/
http://lookinside-saobras.blogspot.com/
http://emcatharsis.blogspot.com/

São muitos os que leio, mas poucos onde boto discurso.
Um abraço a todos

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.



Joaquim Pessoa

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Legalmente fera !




O que se faz geralmente com a fera é prendê-la na jaula, enfiar-lhe uma sólida focinheira, atar-lhe uma coleira ao pescoço,e amansar-lhe o temperamento com muito chicote no lombo.
Assim instruída, poderá até subir um trampolim, levantar-se sobre as patas traseiras, e até pular por dentro de um círculo em chamas.
E palmas. Muitas palmas!
Pelo menos até ao momento em que distraído o domador, a fera salta, dentes à mostra.
É assim que a sociedade de um modo geral, convive com a agressividade.Proibindo-a de se manifestar, trancando-a numa sólida jaula de preconceitos moras, enfiando-lhe um açaime de vetos e inibições.
Agredir fisicamente é proibido por lei. Agredir verbalmente é falta de caridade cristã. Contradizer é pecado, o certo é oferecer a outra face e receber o insulto em dobro.Criança que bate no irmão mais pequeno é cobarde. Irmão mais novo que provoca o mais velho, excede-se e vai de castigo. Mulher que bate noutra, que vulgaridade!
Bonito enfim, é o manso, o doce, o sempre compreensivo.
E embora sejamos todos feras, pretendemos a beatitude de um santo qualquer.

sábado, 16 de outubro de 2010

I Know I have to go...

...
Now there's a way and I know
That I have to go away
I know I have to go
...



Cat Stevens
Father And Son

segunda-feira, 11 de outubro de 2010


Nestes tempos em que tudo se distorce, manifestam-se constantemente falsos afectos por forma a sentirmo-nos devedores em permanência, tal como o canídeo de Pavlov.
-“Toma lá o doce. Não o mereces. Ofereço-to, para que sintas, que me deves qualquer coisa.”
Assim vai andando este país…


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Canção Tonta




Mama.
Eu quero ser de prata.

Filho,
Terás muito frio.

Mama.
Eu quero ser de água.

Filho,
Terás muito frio.

Mama.
Borda-me em teu travesseiro.

Isso sim!
Agora mesmo!


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Perversos somos todos...

Delicadamente perversos, somos todos.


A criança, sobre quem as leis sociais incidem apenas parcialmente, e à qual, ainda muita coisa é permitida, relaciona-se com as suas amizades na base do “chapadão”. Se tiver alguma querela com alguma outra, avança logo com um pontapé na canela e resolve o problema. Mas a criança é um “pequeno-selvagem”.

Nós adultos, somos muito mais civilizados. Se estamos com raiva de alguém esperamos o melhor momento, para descarregar, fraterna e compreensivamente, e somente para o seu bem, dizendo que não concordamos com isto ou com aquilo, com esta ou com aquela atitude, serviço pelo qual seremos compensados na primeira oportunidade, reparando, por exemplo, naquele cheiro do cigarro, que nos esforçamos tanto por disfarçar.

A criança deixa somente uma marca na canela, que em curtas horas desaparece.

Nós gente civilizada, não deixamos marcas visíveis, mas abrimos pequenas e grandes feridas na alma, que custam muito mais a sarar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Lugar de todos

Elaborar correctamente a rivalidade natural, que se estabelece entre seres, é um dos pontos mais delicados e fundamentais na vida de todos nós.
É preciso entender que para assumir o nosso lugar no mundo, precisamos de pisar o terreno, que na realidade é de todos.
O lugar de uns, é, pelas próprias leis da natureza, o lugar de outros, e aqui reside a chamada “pressão do: acredito que sou melhor”.

Aproveitam-se as fraquezas dos demais. Tudo vale; insulto, manobras de desgaste mental, indução à religiosidade, etc. etc.
Mas a mentira tem perna curta ! E quando descobertos, quando a verdade começa a incomodar, e outros, demasiados outros, contrapõem o que julgámos faze-los acreditar a teia fica fininha, fácil de rebentar.

Também há outros, que fingem que acreditam na mentira, para esses, e para os que a praticam, fica bem claro, o sentido do embuste.

Aqui o perigo, são as rugas internas, as que não aparecem no espelho, e que de repente se descobrem fundas, não existindo plástica que as disfarce.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Decisões...

Quantas vezes ouvi, em tom de velada repreensão, sábias vozes femininas, dizerem que o lugar da mulher é no lar, especialmente se a nobre tarefa da maternidade lhe bateu à porta.

Não foi exactamente esse o rumo que segui, e pela escolha, também não carrego culpa.
Tenho duas filhas, já adultas, e hoje posso dizer-lhes sem facilitismos, ou palavras bonitas, porque é que nem sempre, fui tão doce quanto gostariam, e porque é que impunemente, de quando em vez, o “NÃO” perentório, escamoteava as minhas inseguranças.
O mundo da forma que está, não foi feito para facilitar a minha tarefa de mãe-trabalhadora.
Quando engravidei da minha primeira filha, a ideia de parar de trabalhar, nem me passou pela cabeça.Primeiro porque precisava de dinheiro, e ainda mais, depois de a ter nos braços... O trabalho era parte integrante de minha vida, bem como a empreitada materna, estando descartada a hipótese de eliminar qualquer uma destas obrigações.
Sei da luta interior, que enfrentei, para me permitir aquilo que para qualquer homem, é apenas um processo natural: o direito ao trabalho.
Decidi por isso, que trabalho e eu viveríamos em comunhão, tentando a maior harmonia possível.
E foi a partir do momento, em que a minha primeira filha nasceu, que comecei a educá-la.
Não ensinei a um bébé de um dia, elementos de etiqueta, não lhe disse que não deveria pôr o dedinho no nariz, mas iniciei logo um processo de amor, e que ela era muito amada, e essa era razão, fundamental da sua presença no mundo.
E daí por diante, quando decidi que teria mais filhos, e nasce a minha segunda filha, o processo desenvolve-se de forma natural, sempre a fazer questão de transmitir que o trabalho da mãe, não era, nem nunca se tornaria num empecilho, que pudesse de algum modo, sobrepor-se ao amor que por elas tinha.
Quantas vezes ao ir para o trabalho, as duas me pediam para não ir e para ficar com elas a brincar, quantas vezes, quando alguma delas, doente, teve que ficar com alguma das avós, para eu passar o dia trancada no escritório? Cheguei a sentir-me a mais sinistra das mulheres.
Fiz questão de estar presente em pelo menos uma das refeições diárias, de acompanhar o trabalho da escola de estar com elas ao encerrar do dia , deitá-las na cama e combinar o fim de semana seguinte.
E pergunto-me agora, que mãe teria sido eu se tivesse deixado de trabalhar em prole das crianças?
Vejo-me estranhamente empobrecida. Sem trabalho teria sido por certo um ser humano mais pobre, dependente, e a dependência é sempre empobrecedora.
E estando eu reduzida ao pequeno mundo doméstico, que educação poderia trasmitir às minhas filhas? Não censuro todavia, as mães que por opção de vida entenderam que o melhor seria acompanhar os filhos desde o acordar, até à oração da noite.
Educação é palavra traiçoeira. Qualquer pessoa pode ser socialmente bem educada, sendo animicamente desprezível. É tempo de repensarmos o que quer dizer “educar”, e penso que essencialmente é o transmitir “um modo de vida”.
No meu conceito, as minhas filhas estão bem educadas, tornaram-se mulheres capazes, actuantes,dinâmicas, uma delas já é mãe, sem que para isso anulasse a sua participação na sociedade.
Não, não fui uma mãe ideal, e as minhas filhas até já descobriram o manancial dos meus defeitos, servem-se à fartazana, mas se eu não tivesse tido o meu próprio combóio, será que teria sido melhor educadora?
Juntas o dia inteiro, fermentaríamos os meus defeitos, num desgaste fatal para a nossa relação, e eu não ficaria mais mãe apenas pela kilometragem. Não creio que hoje conhecendo-me muito bem, me teçam um hino de louvores, mas vivo tranquila, pois o universo “dos bons modos”, é um problema que preocupa apenas as mentes dos “poucochinhos”!!!

Quero aqui também deixar uma palavra, ao amor de PAI, pois sem a sua ajuda, criar as mulheres que hoje temos, era tarefa bem mais difícil.